Os Delírios de Consumo da Tai


   Por fim me rendi ao fato de que, talvez, ter roupas demais pode se tornar um problema. Aliás, por semanas a fio carreguei comigo a culposa certeza de que adiar o "Dia em que vou ajeitar tudo" resulta em acabar deixando um pouco de roupa em cada canto do quarto. Hoje, enquanto agrupava todas as minhas peças em cima da cama, fui inspirada a escrever este post não apenas como uma garota que escreve para um blog de moda, mas sim como uma pessoa comum levantando a seguinte questão: e se a gente se contentasse com o básico?
    Eu me sentei ao lado daquele amontoado de roupas e senti por alguns minutos o peso da vaidade. O peso que foi não só parcelar blusas em cinco vezes no cartão, mas também o de perceber o quanto costumo investir na minha aparência para me sentir bem comigo mesma. Investiguei peça por peça até me recordar de cada uma delas — algumas, por incrível que pareça, eu não encontrava há mais de um ano, estavam perdidas no fundo do armário. A saia lápis que comprei por achar linda, mas nunca usei por marcar demais o corpo. O vestido de verão que não serve mais. O cardigã que deixei de lado sabe-se lá o porquê.

Confessions of a Shopaholic (2009)

    É confortável ter uma válvula de escape, mas é acima de tudo temporário. Eu não achava ruim só me sentir plenamente bonita com maquiagem, assim como não via problemas em evitar repetir looks, usar elogios superficiais como um meio de validação, e encomendar vestidos novos quando ainda não era necessário. Não achava ruim até perceber os padrões no meu comportamento: os exageros se tornaram uma forma de expressar felicidade, ou tristeza. Afinal, como aquele cara poderia me dar um fora se sou tão visualmente atraente? Ou, ainda, por que não me dar um presente por ter conquistado um novo objetivo?

    Por outro lado, repare que para qualquer outra pessoa isso se traduz como futilidade. Não tem a mesma importância e pode até não fazer tanto sentido demorar para escolher uma roupa. Elas vestem uma de suas cinco camisetas e o que mais estiver por perto e já estão prontas, além de tudo desconhecem ícones da moda quase que em sua totalidade e não ligam se aquele top cropped é lilás ou roxo; elas reconhecem que há outros passatempos que consumem menos tempo e acumulam menos neuras.
   Levando tudo isso em consideração, eu percebi que a moda sempre terá um espaço reservado no meu coração, mas só enquanto se encaixar na realidade. E a minha realidade anda mostrando que posso estar bem vestida com as mesmas roupas de dois anos atrás.











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